Fui chamada para falar sobre Bodypositive no ELLA, Encontro de Feminismos Latino-Americano que acontece pela primeira vez em Lisboa do dia 20 ao 22 de Setembro.
O tema da aceitação corporal é muito caro para mim. Quando eu digo que o seu corpo é lindo, eu tô dizendo que o meu também é. E isso nem sempre foi assim.
Achar o meu corpo lindo do jeito que ele é hoje não exclui o fato de que às vezes eu não ache ele "feio". É uma construção diária que passa pelo reconhecimento de que o corpo que eu carrego tem história. E essa história hoje é bonita, mas já foi horrorosa.
Uma história de mais de 15 anos de transtornos alimentares marcados pelo medo de comer, de me relacionar e de receber qualquer tipo de afeto. Uma história de um corpo mórbido, de ossos ostentados como sucesso e beleza, mas que foram cavados por muita dieta, restrição, sofrimento, isolamento social, frio, amnorréia (ausência de menstruação) e perda óssea.
Bodypositive é um movimento que olha para todos os corpos de maneira positiva. Há beleza em todo corpo, e isso não quer dizer que você não tenha o direito de mudar algo que não goste nele, nem que tenha que achar tudo nele lindo. Para mim, é tão simples quanto reconhecer que nosso corpo é nossa morada e que ele merece nosso amor e respeito, e não ódio. Eu posso até enlouquecer eventualmente com uma dobrinha que percebo em minha barriga, mas nem por isso vou deixar de comer, nem vomitar aquilo que comer, eu vou honrar essa dobrinha como parte da história de um corpo que se recuperou. Eu não vou odiar essa dobrinha, eu vou amar a história que ela conta e aceitar que esse corpo que tenho é um corpo em transição. Pode ser que ele ainda ganhe mais dobrinhas, pode ser que as dobrinhas sumam, pode ser que elas sumam e depois voltem a aparecer, o que interessa é não perder a cabeça com isso que no fundo são apenas dobrinhas. Dá para entender? Talvez esse "tão simples quanto" não seja tão simples assim, afinal somos bombardeas diariamente por imagens de corpos que correspondem aos "padrões de beleza". Por isso é necessário criar nosso próprio padrão, não só de beleza, mas de sucesso, um sucesso que não esteja atrelado necessariamente à nossa imagem corporal.
Na minha perspectiva, falar em bodypositive não significa ignorar os conflitos que temos com nossos corpos, mas justamente saber identificá-los e colocá-los no seu devido lugar para que eles não nos definam. Você não é a sua dobrinha, ou qualquer outra parte do seu corpo que você não gosta. E posso falar? Falei tanto "dobrinha", mas tô aqui pegando nela com carinho ahaha. Ela é bonitinha, vai?
A pergunta que vai nortear a conversa de amanhã é COMO ACEITAR NOSSO CORPO?
Quem estiver ou morar em Lisboa, vou deixar o endereço aqui, quem não puder ir e quiser compartilhar sua reflexão, deixa aqui que eu jogo na roda amanhã!
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COMO ACEITAR NOSSO CORPO?
Neusa Souza e Luisa Mafei
21/09 às 11h - Praça José Fontana
Programação completa do ELLA:
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